
Foto: Paulo Lisboa/Folhapress
Preso pela Polícia Federal na manhã de ontem em sua residência em São Paulo, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é foco de sete frentes de investigação pela força-tarefa da Operação Lava Jato. As apurações envolvem o recebimento de propina em obras de refinarias e unidades petroquímicas, em contratos do setor naval para o pré-sal, em negócios com recursos do fundo de pensão dos trabalhadores da Petrobras (Petros) e por enriquecimento ilícito.
Vaccari e sua cunhada foram presos pela Polícia Federal e levados diretamente para a Superintendência da PF em Curitiba, onde estão concentrados os trabalhos da Lava Jato.
Denunciado criminalmente como o operador de propina do PT no esquema de cartel e corrupção na Petrobras, o tesoureiro nacional do partido já havia sido conduzido coercitivamente a depor, no dia 5 de fevereiro. Desta vez, a mulher dele, Giselda Rosie de Lima, foi conduzida coercitivamente a depor.
Uma das frentes envolve um suposto pagamento de R$ 400 mil, depositado em 2008 na conta da mulher de Vaccari por empresa usada pelo ex-deputado federal José Janene (PP-PR) – estopim da Lava Jato.
Em um ‘pen drive’ aprendido nas buscas da Lava Jato, a PF localizou o contrato de empréstimo datado de 10 de novembro de 2008 e assinado pela mulher de Vaccari e pela empresa CRA – Comércio de Produtos Agropecuários Ltda., bem como o recibo de quitação de 2009.
A CRA estava registrada em nome do advogado Carlos Alberto Costa, preso em 2014 pela Lava Jato acusado de ser laranja do doleiro Alberto Youssef.
Réu confesso da Lava Jato, Costa revelou que a CRA pertencia a Cláudio Mente e foi usada para movimentar propina das empreiteiras acusadas de corrupção na Petrobras por Janene e empreiteiras do cartel.
Nos documentos da Lava Jato, está a transferência dos R$ 400 mil para a conta de Giselda no dia 19 de novembro de 2008. O advogado de Youssef afirmou em depoimento que foi ele quem elaborou o contrato de mútuo entre a CRA e a mulher de Vaccari. “Visava justificar a transferência a Giselda Rousie de Lima. A CRA nunca emprestou dinheiro a ninguém”, declarou Costa em depoimento prestado à PF no dia 13 de fevereiro.
No termo, o laranja de Youssef e Mente declarou ter “certeza de que tanto o contrato de mútuo como o termo de quitação foram feitos na mesma data, como era de praxe, considerando que esse tipo de documento era usado para ‘esquentar’ alguma transação financeira”.
Costa declarou ainda que Vaccari tinha “negócios” com o ex-sócio de Janene “ligados a fundos de previdência”. “Claudio (sócio de Janene) mencionava a influência de Vaccari junto a fundos de pensão de estatais”, disse à PF.
PT acredita na inocência

A direção do PT considerou desnecessária a prisão do secretário de Finanças do partido, João Vaccari Neto. Em nota assinada pelo presidente da legenda, Rui Falcão, o partido reafirmou confiança na inocência de Vaccari, “não só pela sua conduta à frente da Secretaria Nacional de Finanças e Planejamento, mas também porque, sob a égide do Estado Democrático de Direito, prevalece, há o princípio fundamental de que todos são inocentes até prova em contrário”.
Na nota, o PT informou que os advogados que estão cuidando da defesa de João Vaccari Neto estão apresentando um pedido de habeas corpus para que ele seja solto no menor prazo possível. Em outro trecho, o partido expressou solidariedade a Vaccari e sua família, reafirmando a confiança de que a verdade prevalecerá no final. O PT informou também que Vaccari pediu afastamento do cargo de tesoureiro do partido.
“A detenção de João Vaccari Neto é injustificada, visto que, desde o início das investigações, ele sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento que lhe fosse solicitado. Convocado, prestou depoimento na Delegacia da Polícia Federal de São Paulo, em 5 de fevereiro desse ano. Além disso, na CPI da Petrobras, respondeu a todas as questões formuladas pelos parlamentares.”
No documento, o PT esclareceu que o pedido de afastamento da tesouraria do partido foi do próprio Vaccari. “Informamos que, por questões de ordem práticas e legais, João Vaccari Neto solicitou seu afastamento da Secretaria de Finanças e Planejamento do PT.”