O Estado do Rio de Janeiro teve uma média de 13 estupros por dia entre 1º de janeiro e 30 de abril deste ano. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão ligado à Secretaria de Estado de Segurança do Rio, foram registrados 1.543 casos de estupro no estado nos primeiros quatro meses de 2016.
Durante a última semana, o estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos na Zona Norte do Rio virou pauta de jornais no Brasil e no mundo. Não só o corpo da vítima foi violado por mais de 30 homens como imagens do ato foram registradas e divulgadas nas redes sociais pelos próprios criminosos.
Na televisão, a jovem conta que após todas as agressões que sofreu ainda passou por outras humilhações. Ela foi tida como culpada por muitos — inclusive o delegado designado para cuidar de seu caso — pelo que lhe aconteceu, além de ter recebido milhares de críticas e ameaças de morte de todo o país.
Isso é um absurdo. Acredito que por causa deste tipo de reação que muitas mulheres vítimas de violência não denunciam os estupros e outros tipos de violência que sofre. É preciso combater a “Cultura do estupro” , que é um termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens.
A cultura do estupro é uma consequência da naturalização de atos e comportamentos machistas, sexistas e misóginos, que estimulam agressões sexuais e outras formas de violência contra as mulheres. Esses comportamentos podem ser manifestados de diversas formas, incluindo cantadas de rua, piadas sexistas, ameaças, assédio moral ou sexual, estupro e feminicídio.
A cultura do estupro é violenta e tem consequências sérias. Ela fere os direitos humanos, em especial os direitos humanos das mulheres. Nenhum argumento deve, em nenhuma instância, normalizar ou justificar atos bárbaros e criminosos como o estupro.
Mulheres pela Democracia
Recebida aos gritos “Volta, querida”, a presidenta Dilma Rousseff participou de manifestação da última quinta-feira (2), no Centro do Rio de Janeiro, com a participação de diversas lideranças políticas e de movimentos de mulheres, trabalhistas, sociais. O ato Mulheres pela Democracia saiu do Largo da Carioca por volta de 17h com mil pessoas e reuniu cerca de 25 mil, na Praça XV, de acordo com a organização, e foi marcado por críticas ao governo interino de Michel Temer, especialmente pela falta de representatividade feminina em sua equipe e desrespeito aos direitos das mulheres.
A presidenta afastada também condenou a cultura do estupro e a segregação social que, segundo afirmou, ainda imperam na nossa sociedade. Ela lembrou os casos recentes que ocorreram na cidade: o estupro coletivo de uma jovem de 16 anos e a proibição de um clube a uma babá acompanhar crianças ao banheiro social.
“Essa cultura do estupro contra as mulheres e da exclusão social é algo que nós sabemos que tem que ser combatido por todos os movimentos, mas também pelos governos. É lamentável que ao escolher uma secretária das mulheres ela se manifeste contra o abordo em caso de estupro, previsto em lei. É uma conquista ainda pequena das mulheres, mas é uma conquista. Um agente público, homem ou mulher, mas sobretudo uma mulher, não pode achar que as suas convicções pessoais se sobreponham à lei”, disse Dilma, referindo-se à nomeação de Fátima Pelaes para a Secretaria de Políticas para Mulheres.
por Ana Paula Moresche
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