A madrugada de domingo (12), Dia dos Namorados, iniciada na “Noite Latina” organizada pela boate Pulse, na Flórida, frequentada por homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais, registrou o maior massacre dos últimos tempos nos Estados Unidos: 49 pessoas foram mortas e mais de 50 feridas. A polícia americana investiga os motivos, entre eles a homofobia, que levaram Omar Mateen, de 29 anos, morto pelas autoridades, a praticar o ato bárbaro.
Os crimes praticados contra homossexuais são, na sua maior parte, crimes de ódio, e devem ser referidos como crimes homofóbicos, tendo como motivo a não aceitação e aversão por parte do agressor em relação à vítima por ser gay, lésbica, travesti ou transexual. Assim, podemos entender a complexidade do fenômeno da homofobia que compreende desde as conhecidas “piadas” para ridicularizar até ações como violência e assassinato. A homofobia implica ainda numa visão patológica da homossexualidade, submetida a olhares clínicos, terapias e tentativas de “cura”.
No Brasil, em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legalidade da união estável entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. A decisão retomou discussões acerca dos direitos da homossexualidade, além de colocar a questão da homofobia em pauta. Apesar das conquistas no campo dos direitos, a homossexualidade ainda enfrenta preconceitos. O reconhecimento legal da união homoafetiva não foi capaz de acabar com a homofobia, nem resguardou inúmeros homossexuais de serem rechaçados, atacados ou assassinados.
Acontece que as leis podem ter avançado e que nas grandes cidades brasileiras ou americanas é possível viver a própria homossexualidade com liberdade, mas o que deveria ser normal não é. Ainda permanece o preconceito de beijos em públicos ou mãos dadas para dois homens como para duas mulheres. Além é claro de diversas boates como a Pulse ou datas especiais para o segmento LGBT.
Segundo o banco de dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), 318 LGBT foram assassinados no Brasil em 2015: um crime de ódio a cada 27 horas: 52% gays, 37% travestis, 16% lésbicas, 10% bissexuais. A homofobia mata inclusive pessoas não LGBT: 7% de heterossexuais confundidos com gays e 1% de amantes de travestis.
Estupros, homicídios e crimes de ódio homofóbicos infelizmente acontecem todos os dias em diversas partes do mundo. Aconteceu com o artista e produtor, Adriano da Silva Pereira, em Nova Iguaçu, com o universitário Anderson Veloso, em Pernambuco e em tantos outras cidades.
Esses tipos de delitos não podem ficar impunes. É preciso ir mais adiante e avançar nas relações sociais para que todos os gays se mostrem como tais em qualquer lugar, sem medos e sem crimes. Outra atitude importante é fazermos uma autocrítica para revermos e desconstruirmos estereótipos e preconceitos naturalizados e enraizados. Também é fundamental contribuirmos para a formação de crianças e adultos que vivenciem diferenças como diversidade e não desigualdades, que conheçam e defendam os direitos humanos.
Por Ana Paula Moresche