Ainda tratando da segurança residencial
Há sempre de se dificultar a ação dos ladrões. Instale grades nas janelas, olho mágico, circuito fechado de televisão, sensores para detecção de presença e trancas nas portas. Há recursos compatíveis com todo tipo de orçamento e ressalte-se que o equipamento mais caro não necessariamente significará a melhor escolha. Estude as vulnerabilidades da casa ou prédio de apartamentos onde reside. Verifique as instalações e a área circunvizinha.
Com a ajuda de um consultor, procure robustecer a segurança de sua casa de forma que alguém, ao avaliá-la como um provável alvo, vá preferir atacar outra menos protegida. Não adianta somente aumentar o muro e colocar em seu topo concertinas de arame farpado. Há muros feitos de tijolos de cimento e sem amarração de ferros, nos quais é bem fácil fazer um buraco e passar através dele. Às vezes a melhor opção para o local é o gradeamento ou a instalação de uma cerca de tela. Tudo varia, caso à caso. Sempre procure se colocar no papel de um eventual agressor e não deixe de testar a eficácia das medidas adotadas. Será que alguém conseguiria pular esse muro com facilidade? Quando se verificou pela última vez a integridade da cerca de arame farpado? Alguém ouviria se o mesmo fosse derrubado à marretadas em algum ponto do perímetro? Há previsão de ronda diária a fim de perceber se há indício de intrusão em algum ponto do perímetro murado? Não confie na sua primeira impressão de inexpugnabilidade.
Se possível, suba numa escada rente ao muro e avalie o grau de dificuldade que o criminoso encontrará! Será que as medidas adotadas são suficientes? É engraçado mas a maioria das pessoas só se dá por conta da facilidade de transposição dos seus muros quando os bandidos finalmente demonstram o quão fácil é escalá-los. Em meados de 2009, uma pesquisa feita por policiais junto a criminosos presos no Paraná ressaltou que os mesmos davam preferência a assaltar casas de muros altos, cujo interior não era visível da rua. Uma vez alcançado o interior da propriedade, eles, encobertos pela murada, declararam que gozavam de total liberdade de ação.
No Rio de Janeiro, diversas residências situadas em áreas nobres, cujos fundos coincidem com áreas de floresta (na Barra da Tijuca, Joatinga, Itanhangá, São Conrado, Leblon, Jardim Botânico e Usina) não tem sua área posterior muradas, gradeadas ou sequer sensorizadas, apenas porque se imagina que a mata se constitua num obstáculo de difícil transposição. Em inúmeros assaltos à residências os bandidos entram por dentro da mata, transpõe lagoas, valões ou pequenos cursos d’água e surpreendem completamente as suas vítimas, até em condomínios cujos portões (que dão acesso às vias de movimento) são guarnecidos por guardas armados e monitorados por circuito fechado de televisão. Você precisa estar comprometido com a sua própria segurança! O interesse é seu e o maior prejudicado se algo de ruim acontecer também será você ou seus entes queridos! Pense nos problemas e antecipe-se nas soluções. Posso ser rendido no portão? E se um criminoso pretender entrar pela porta, arrombando-a ou forçando a entrada junto comigo? O que eu devo fazer? Como eu poderei avisar a alguém que estou sendo alvo de um assalto? Existe algum jeito de avisar se eu for abordado na rua e forçado a vir para casa? Como fazer? Procure antever os passos do seu adversário pois só assim você poderá escolher um curso de ação adequado. Se isso acontecer eu reajo? Fazendo o quê? Corro? Me entrego? Você só poderá saber qual a melhor atitude a tomar se dedicar alguns importantes momentos do seu tempo a essa reflexão extremamente necessária.
Não adote o raciocínio fatalista segundo o qual não oferecer algum tipo de resistência aos criminosos se constituiria na atitude mais acertada. É por causa dessa visão que a criminalidade vem ganhando em força e ousadia; eles agem e praticamente confiam que não haverá oposição. Nós não podemos nos fiar nos escrúpulos de quem não os tem. Não se pode confiar no bom senso de alguém que opta por ganhar a vida de forma violenta, subtraindo os bens que pessoas honestas suaram para amealhar.
Uma vez que os criminosos chegam às residências nervosos, raivosos, mal intencionados ou drogados, não se pode afiançar previamente que os mesmos deixarão você e seus familiares à salvo após roubarem tudo o que desejarem. Vale lembrar que, motivados após uma ação bem sucedida e do ganho fácil, há grande probabilidade de que a visita dos ladrões venha a se repetir após algumas semanas ou meses. Não estamos advogando que o cidadão obrigatoriamente venha a atracar-se com bandidos armados, mas vale lembrar da máxima de reagir sempre que houver oportunidade. Correr, acionar alarmes, trancar-se num compartimento seguro, telefonar para a polícia, são reações que podem ser tão válidas quanto apanhar uma arma e efetuar disparos.
Em última instância é você quem gerencia sua própria segurança, e por mais que um consultor, secretário ou mesmo alguém diretamente encarregado da sua segurança possa aconselhá-lo, será sempre você quem decidirá o que fazer. De qualquer forma, em qualquer que seja o cenário, você deve acostumar-se a antecipar-se aos perigos potenciais e a planejar o quê fazer em face de tais situações. Normalmente você dedica uma parcela muito pequena do seu tempo planejando como salvaguardar-se e há mesmo pessoas que se vangloriam de sequer pensar nisso.
Enquanto isso, criminosos que você não conhece (às vezes até com a colaboração de pessoas próximas e aparentemente insuspeitas) concentram sua atenção na tentativa de detectar uma falha em seus procedimentos, garantindo-lhes uma forma segura para lhe atacar e fugir. Eles vão procurar perceber onde estão as falhas e contra elas vão agir.
VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, CPP, o autor, Consultor em Segurança, Diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança – ABSEG – no Rio de Janeiro e membro do Conselho Empresarial de Segurança Pública da Associação Comercial do Rio de Janeiro. E-mail: vdcsecurity@hotmail.com