Delegada da Deam de Belford Roxo pede que mulheres denunciem agressores

A delegada Tatiana Queiroz está a frente da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Belford Roxo
Fotos: Ivan Teixeira

Estudos do mapa da violência do ano 2015, produzido pelo sociólogo Júlio Jacobo apontam que Brasil está na quinta posição da lista de 84 países onde mais se matam mulheres. O Jornal de Hoje entrevistou a delegada Tatiana Queiroz, de 42 anos, que está a frente da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), de Belford Roxo, para saber sua opinião a respeito.
“Longe de toda a glamourização da carreira de servidor público enfrentamos ameaças”, afirma a delegada, que foi homenageada pela Câmara Municipal de Angra dos Reis por seus serviços prestados ao município. Ela explicou como é ocupar o posto no cargo público e falou sobre a luta contra o feminicídio no Brasil.
Há pouco mais de 10 anos no Brasil foi sancionado o decreto de número 11.340 que impulsionou e massificou a luta a favor do gênero feminino com o intuito de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Nascia em agosto de 2006 a lei Maria da Penha. Visando punições mais rigorosas para este tipo de crime poucos anos depois foi reforçada essa trave em março de 2015 através da lei do Feminicídio, de número 13.104/2015, que aumentou o rigor da punição a agressores de mulheres, classificando como crime hediondo e com agravantes quando há situações de vulnerabilidade como (gravidez, menor de idade, na presença de filhos, etc.).

JH- Para a senhora a Lei do feminicídio tem contribuído com mais rigor e acrescentado no papel da Lei Maria da Penha?

Delegada- “Posso apenas falar pelo Estado do Rio de Janeiro, que mesmo antes da legislação, com a inauguração das Divisões de Homicídio, a Dra. Martha Rocha, ex-chefe de Polícia Civil, já atribuía a presidência da investigação à uma delegada de polícia lotada em tais unidades. Atualmente, quem investiga o crime de feminicídio é a DH, até pelo estrutura que a compõe. Não só os crimes ligados a violência de gênero, como todos os casos de homicídio, são solucionados em tempo recorde”.

JH- Ainda há resistência por parte das mulheres em denunciar a agressão? 

Delegada- “Muita. Muita mesmo. Algumas pensam ainda que a relação explosiva e agressiva é normal e vivem na zona de conforto”.

JH- Existem programas de recuperação para os agressores, como eles funcionam? Tem contribuído para que eles não voltem a cometer os mesmos crimes?

Delegada – “Aqui no Rio de Janeiro somente organizações não governamentais fazem esse trabalho. Por enquanto, nenhuma DEAM tem parceria com estas organizações. Mas, em alguns estados, o juiz determina a presença do agressor em palestras e seminários sobre violência de gênero”

JH- Como fica a situação da mulher que realiza a denúncia, porém não tem para onde ir e levar seus filhos? Existe algum abrigo ou casa de acolhimento aqui na Baixada Fluminense que recebe essas vítimas?

Delegada – “Aqui na Baixada, tinha a de São João de Meriti, Mesquita. Mas, diante da crise estatal, não sabemos se está em pleno funcionamento. Em Belford Roxo, encaminhamos estas vítimas para o abrigo no Rio de Janeiro e lá, eles acolhem, ou encaminham para o órgão próprio”.

JH- É alto o índice de mulheres que após sofrerem a agressão voltam para os companheiros? 

Delegada – “O índice é muito alto. Vamos dizer que em sua maioria. Elas retornam por causa dos filhos, por causa do patrimônio, por causa da necessidade financeira, e até mesmo por acreditarem na mudança de comportamento do agressor”

JH- A senhora está há 15 anos na Polícia Civil e há 9 ocupa o cargo de delegada. Relembrou fatos marcantes em sua trajetória.

Delegada- “Quando comecei a faculdade de direito, já almejava ser policial, enfrentei vários desafios, dentre eles, um caso de violência que me chamou atenção foi o de uma mulher espancada pelo amante que tinha o intuito de matá-la. O criminoso pensando que ela estava morta a largou em um matagal. O que ele não esperava era que ela estivesse viva e fingiu estar morta para que ele não concretizasse o homicídio. As sequelas foram irreparáveis e aquela moça ficou cega. Infelizmente, não há somente as marcas físicas como lesão corporal, mas também as emocionais, consequentemente síndrome do pânico, medo, e essas vítimas precisam ter apoio psicológico para superar”.

JH- Deixe uma mensagem às vítimas de agressão.

Delegada- “A Deam está não somente a serviço da mulher como também de sua família, para aquelas que forem vítimas de agressão, denunciem e não se omitam, quanto mais rápido a vítima fizer a denúncia mais evidências teremos para comprovar o crime e prender os autores”

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