O projeto Baixada Para Cima fez a entrega de certificados para 16 ‘Jovens Pesquisadores’ de Japeri. Durante 54 dias eles percorreram cerca de 324 quilômetros levantando em 3.465 domicílios as dificuldades e vulnerabilidades sociais e econômicas de moradores de dez bairros de Engenheiro Pedreira.
O evento foi realizado na Sala Popular de Cinema Anselmo Duarte, com a presença do secretário municipal de Assistência Social e Trabalho, Márcio Rodrigues Rosas, o Márcio Bibi, que representou o prefeito Carlos Moraes.
O objetivo do programa é aumentar a inserção e a participação ativa de adolescentes e jovens moradores da Baixada Fluminense nos programas de assistência social dos governos municipal, estadual e federal. Com isso, eles contribuem para o pleno exercício da cidadania em setores com vulnerabilidade cultural, econômica e social.
Para Bibi, a iniciativa é muito bem-vinda e uma inovação para os municípios. Segundo ele, são muitas as demandas nos Centros de Referência em Assistência Social. “E esse trabalho, não só nos ajuda a atender melhor a situação das pessoas, como também retira das ruas adolescentes e jovens em situação de risco”, frisou.
O Baixada Para Cima, criado em 2015, é co-financiado pela União Europeia, com coordenação da organização italiana Comitato Internazionale per lo Sviluppo dei Popoli e apoio da Ong brasileira Se Essa Rua Fosse Minha. O primeiro passo do programa é a valorização do protagonismo juvenil.
“A nossa meta é colocar jovens de 17 a 24 anos, de cada região da Baixada Fluminense, como protagonista das ações sociais na própria cidade onde vivem. Para isso, eles são capacitados a fazer pesquisa de campo para ver o que há de políticas e equipamentos sociais em suas regiões”, explica Heron Barbosa, da área de articulação institucional e supervisor de campo do projeto.
Um banho de emoções
Aluno do 2º ano do Ensino Médio na Escola Municipal Almirante Tamandaré, Magno Ribeiro Almeida Jr, 17 anos, foi um dos Jovens Pesquisadores agraciados com o certificado do projeto.
“Passamos por muitas situações, boas, ruins e até mesmo constrangedoras, que tocaram muito a nossa sensibilidade humana. Foi, digamos, um banho de emoções. Conhecemos pessoas que nos acolheram e outras que fizeram descaso com as pesquisas”, conta.
Para o filho de garçom e professora, morador no bairro Maria José, o que mais lhe chamou a atenção foi a “via crucis” de uma senhora de 92 anos, que, mesmo sem receber qualquer tipo de benefício financeiro, cria dois netos e a filha usuária de drogas, com crise de abstinência.
“Só que essa filha, além de professora, fala três outros idiomas, incluindo inglês e francês. Fiquei sabendo que ela teria caído no mundo das drogas ao se envolver com o pai das crianças”, contou Magno, emocionado.
Com Ensino Médio completo e filha de pedreiro, Débora Teles Cardoso, de 19 anos, se diz gratificada por ter participado do projeto como Jovem Pesquisadora.
“Foi muito bom, porque descobri lugares e situações onde moro e que eu mesma não conhecia. E o que mais me impressionou foi constatar que muita gente não conhece seus próprios direitos de cidadãos. Eu pude ajudá-los, orientando-os, indicando os caminhos que eles devem tomar para conquistar seus benefícios e melhorar suas próprias vidas”, contou a jovem moradora do bairro Santa Terezinha, que pretende fazer concurso para atuar como recenseadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
Dez bairros visitados
Os Jovens Pesquisadores são selecionados juntos aos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS). Sociólogo e supervisor da pesquisa, João Felipe Salomão explica que a ideia do projeto é mobilizar, capacitar e desenvolver uma experiência prática e teórica sobre políticas públicas e estimular a participação social.
Os jovens recebem capacitação de 40 horas, abordando temas de Direitos Humanos, Cidadania, Prevenção e Gestão de Riscos em Áreas Vulneráveis, e noções sobre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Ganham ainda bolsa auxílio, alimentação, material de proteção e uniforme para identificação em campo.
Capacitados, os jovens vão às ruas, de pranchetas em punho, de porta em porta, fazendo visitas domiciliares. Em Japeri, a pesquisa começou em junho, mas teve de ser interrompida em alguns períodos devido a questões de insegurança em alguns locais. Os pesquisadores visitaram dez bairros de Engenheiro Pedreira, passando por Cosme e Damião, Santa Terezinha, Granja Iguaçu, Caramujos, Macujá, Macujá, Macujá 2, Macujá 3, Maria José e Vila Central.
“Com isso, eles não só multiplicaram seus conhecimentos junto às famílias, como também poderão contribuir para a melhoria do acesso das pessoas aos programas sociais básicos. A coleta de dados será usada no relatório final como orientação aos gestores públicos no monitoramento e elaboração de programas e serviços”, observa Heron Barbosa.