Sobre as fake news: cuidado com os idos de março

*José Mauro Gonçalves Nunes

O mês de março possui uma aura em sediar acontecimentos políticos e sociais dramáticos. A expressão Os “Idos de Março” se origina no presságio do vidente ao general romano Julio Cesar sobre o seu assassinato, ocorrido em 15 de março do ano 44 a.C. Desde então, pensadores, políticos e jornalistas colecionam dados e fatos ocorridos neste fatídico mês.
O mês de março de 2018 não fugiu a esta tradição. Dois acontecimentos dramáticos sacudiram a sociedade brasileira e o mundo. Na noite do dia 14 de março passado, a vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista foram assassinados no centro do Rio de Janeiro por atiradores dentro de um carro, gerando uma comoção que repercutiu não apenas na cidade mas em outras capitais do país. Após suas mortes, as redes sociais foram invadidas por acusações falsas que denunciavam o envolvimento da política com o crime organizado. Tais notícias viralizaram, gerando uma batalha política e cultural nas redes que divide amigos, famílias e o Brasil desde as jornadas de Junho de 2013.
Já em 17 de março, uma reportagem do jornal britânico “The Observer” revelava que a consultoria britânica de marketing político Cambridge Analytica coletou milhões de perfis de usuários norte-americanos na rede social Facebook a partir de testes de personalidade disponíveis para os usuários sob forma de quizzes. O escândalo da privacidade dos usuários da rede tornou-se explosivo uma vez que esta empresa não apenas foi responsável pelas campanhas vitoriosas de Donald Trump à Presidência norte-americana e da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), mas também pelo fato de um dos seus ex-sócios ter sido o principal conselheiro da campanha de Trump à Casa Branca.
O escândalo proporcionou a maior crise de imagem da história do Facebook, levando não apenas à perda de anunciantes na plataforma mas uma queda de US$ 74,7 bilhões no seu valor de mercado.
O fio que une essas duas histórias não apenas é temporal – afinal ambas aconteceram em março – mas sim pelo papel das redes sociais na difusão de notícias falsas (fake news) e seu impacto na formação da opinião pública nos dias de hoje.
Um estudo publicado em março de 2018 na revista Science por pesquisadores do Massachussets Institute of Technology (MIT) lança uma luz sobre a dinâmica de difusão das fake news. Analisando cerca de 126 mil notícias compartilhadas por 3 milhões de usuários ao longo de 10 anos no Twitter, a pesquisa chega a conclusão de que a taxa de difusão de notícias falsas é muito maior comparado a observada nas notícias verdadeiras. Boatos, rumores e impressões vagas não apenas recebem muito mais atenção por parte dos usuários, bem como são compartilhadas por muito mais pessoas. Segundo os autores do estudo, uma notícia falsa se propaga seis vez mais rápido do que uma notícia verídica. Além disso, a chance de uma notícia falsa ser compartilhada é de 70%, chamando a atenção para o papel ativo dos usuários na viralização das fake news.
Logo, um dos principais achados da pesquisa é de que a difusão de notícias falsas nas redes sociais deve mais por pessoas do que perfis automatizados (os chamados bots).
As eleições presidenciais este ano serão importantíssimas para o futuro do nosso país, dado o tamanho da crise econômica e política que estamos enfrentando nos últimos anos. Além disso, a internet, os dispositivos móveis e as redes sociais terão papel decisivo no pleito. O escândalo das fake news deve servir de alerta para que possamos nos precaver contra a máquina de desinformação vigente nas plataformas sociais digitais. Mais do que nunca, saber a origem da informação, a qualidade da fonte, e o conteúdo é de fundamental importância para o eleitor. E, vale o alerta: não compartilhe notícias apenas por ter um cabeçalho polêmico: leia a matéria, se informe sobre quem a propagou, cheque nos vários portais de notícias a veracidade da informação. Nós, brasileiros, agradecemos!

*José Mauro Gonçalves Nunes – Professor do mestrado executivo em Gestão Empresarial (FGV/Ebape), professor Adjunto (IFHT/UERJ), doutor em Psicologia pela PUC-Rio, consultor da Symballein Consulting Company nas áreas de marketing, inovação, gestão de pessoas e estudos organizacionais.

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