
Fotos: Ivan Teixeira
A polícia está trabalhando com duas linhas de investigação, ambas envolvendo preconceito filosófico e ódio, para o assassinato do ator e produtor cultural Adriano da Silva Pereira, 33 anos. O artista, que era adepto do candomblé e homossexual, foi encontrado morto, com marcas de facadas e espancamento em um rio do Bairro Cabuçu, em Nova Iguaçu na última segunda-feira (6). A vítima será homenageada amanhã pelo grupo Maracatu Baque de Mata após as atividades do Cineclube Buraco do Getúlio, a partir das 19h, na Praça de Direitos Humanos, em Nova Iguaçu.
Adriano estava desaparecido desde domingo (5) quando saiu de casa em Belford Roxo, para beber como amigos em um posto de gasolina em Nova Iguaçu. Segundo o delegado titular da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, Fábio Cardoso, pelas marcas encontradas no corpo da vítima pode-se dizer que foi um crime de ódio. “Temos várias linhas de investigação neste caso. Não descartamos nada. Foi um crime de ódio pelas marcas, mas é prematuro dizer o motivo. Tem também essa questão filosófica dele (a religião) e tudo está sendo analisado” afirmou o delegado titular.Vários amigos e parentes foram intimados à prestarem depoimentos, que devem acontecer nos proximos dias. Ainda conforme o delegado, alguns deles estão assustados e com medo de represálias por intolerantes que fazem comentários ofensivos nas redes sociais.
Adriano foi encontrado sem identificação, no corpo havia marcas de facadas e escoriações pelo rosto. Familiares acreditam que motivação do crime seja homofobia. Eles estiveram na sede da especializada na manhã de ontem para prestar depoimento. A cunhada de Adriano, Priscila Bispo, ainda estava muito abalada e sem acreditar no que aconteceu. Para ela o crime foi em virtude do rapaz ser gay. “Não desconfiamos de ninguém. Olhamos celular, rede social e nada. Ele saiu de casa sozinho. Quem matou ele não gostava da opção que ele escolheu” disse ela.

A vítima saiu de casa na noite de domingo para encontrar amigos no Posto Shell, conhecido como “Posto Danielle”, em Nova Iguaçu, e depois disso não foi mais visto. Segundo uma funcionária do local, a polícia já pediu imagens das câmeras de segurança, porém ela ainda será solicitada para a empresa terceirizada responsável pela segurança.Um frentista confirmou que Adriano esteve no posto com amigos.
O jovem frequentemente saia de casa vestindo trajes femininos. Esse perfil incomum chamava atenção de populares na rua. Por vezes, Adriano sofria agressões verbais por onde passava e também mensagens de apoio, segundo afirmam familiares. “Como o meu irmão não tinha um relacionamento, não tinha um amante, não tinha ninguém, e nós sabíamos disso, existe a possibilidade de ser um crime de ódio sim, gerado pela homofobia. Mas isso tem que ser pesquisado, tem que ser investigado, a gente não pode afirmar que seja isso ainda”, afirmou o irmão Mazé Mixo.
Adriano, que era conhecido pela alegria e espontaneidade, sempre estava presente em eventos culturais de Nova Iguaçu. Ele era Membro do grupo Tambores de Olokun, um dos fundadores do Brechó Dona Pavão e adepto do candomblé, uma das religiões de matriz africana.O artista também foi fundador do Movimento 28 de Junho, o primeiro em defesa das causas LGBT na Baixada Fluminense. O corpo foi enterrado na tarde de quarta-feira no cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, acompanhado por um cortejo dos Tambores de Olokun.
Por: Gabriele Souza ( Gabriele.souza@jornalhoje.inf.br)